4. Na sociedade com organização e sentimentos humanos



Assim, as idéias de leis onipotentes que amarram as pessoas vão sumir e desaparecer. Mas não quer dizer que se pretenda fazer uma sociedade primitiva, sem governo e sem normas.

Para água, instalamos canais por onde ela corre sem transbordar; para pessoas, instalamos estradas largas por onde podem transitar livremente e com segurança; e fazemos um mecanismo para que possam agir conforme a livre vontade e capacidade de cada um, automática e suavemente, sem atrapalhar os outros. Sem órbitas haverá confusões e as coisas não avançam; por isso estabelecemos sistemas e instituições sem erros, voltados para o Homem verdadeiro.

Mas, mesmo que fiquem prontos tais sistemas de trânsito, se existirem entre as pessoas que vão pelo mesmo caminho, sentimentos frios que entreolham com olhos gelados e que atropelam os outros, não é possível fazer a viagem da vida com prazer. E quanto ao individualismo em que, mesmo quando alguém pergunta o caminho, não dá atenção, dizendo que "eu sou eu" e que "os outros são os outros", na realidade a sociedade não é somente minha; inevitavelmente existem as relações com outras pessoas de alguma forma; o ser humano é relativo, podem ter graus diferentes quanto a cada um viver a sua vida, mas enfim, a vida se torna significativa ao se manterem mutuamente uns com os outros. É impossível a pessoa ser sozinha de verdade, e é algo que naturalmente aí vão emergindo sentimentos humanos.

Quando há com quem conversar, passam horas de prazer esquecendo a longa estrada onde viajam. Numa viagem longa, num trem ou num navio, mesmo com pessoas que eram desconhecidas, chega uma hora em que começam a trocar palavras e se tornam amigas. Mesmo com uma pessoa que apenas viu uma única vez na beira da estrada, ao se reencontrarem numa terra distante, se sentem próximas e começam a conversar, e as crianças puras se familiarizam com especial facilidade; acho que estas são formas naturais do ser humano. Mesmo alguém chamado de homem frio sem sentimentos, acontece de ser um bom marido no lar, ou de chorar dentro do coração como um pai cheio de ternura.

Que "o sentimento de amor fraterno é condição absoluta" para a sociedade ideal, é como está dito com ênfase no propósito da Associação.

Ou seja, existem coisas impossíveis de serem resolvidas somente com direitos, deveres, sistemas organizacionais ou saúde física e abundância material. Além disto, como condição para a felicidade, a riqueza do coração ocupa a parte principal, e a organização da sociedade que tem como ideal a vida feliz, deve ser montada sobre a base do amor humanitário.

Estas coisas já devem ter sido ditas muitas vezes até agora. Mas penso que a causa da não realização até agora, se deve ao fato de serem coisas que apenas pregavam, mas não possuíam métodos, ou eram coisas passivas e tépidas, ou não tinham qualidades de serem comuns e universais. Diante disto, esta Associação foi organizada tendo como base o amor e a inteligência, e para realizar isto o mais rápido possível, aplicamos o método ativo de efetivação concreta em todas as condições da felicidade.

Mas como é inconveniente se os sentimentos humanos se excederem e virarem amor cego, ou se as coisas não avançarem por razão de cada um ficar cedendo um ao outro, existe a necessidade de indicar exemplos de seqüência de linha geral para ordená-las.

Na organização social também instalamos o que comparamos com os canais e as estradas; deixamos nas mãos de cada um a escolha de qual caminho irá seguir, e não obstruímos em nada a vontade da pessoa. E como não vão existir pessoas que disputam a frente e obstruem os outros, as leis que castigam não serão necessárias. Mas para que não criem confusões no trânsito por ficarem cedendo uns aos outros, deixamos definidas pelo menos as ordens de seqüências.

Isto também pode parecer bonito demais, se olharmos com a visão das idéias da sociedade existente, e pode parecer um pensamento infantil que vê somente o aspecto externo das relações das senhoras na porta de entrada de um ônibus. Mas existe um meio de prática sob os pés, num lugar inesperadamente próximo, e ao fazer, penso que o fato não é algo tão difícil. Que tal fazermos para que possam ver ? Aliás, já estamos fazendo.